Há quase um mês iniciamos o processo
criativo do espetáculo O Teatro é de Cordel, na verdade o processo começara
desde maio de 2011, quando fizemos as primeiras intervenções do “Candieiro
Encantado” nos bares da cidade. Nessas intervenções percebemos o potencial dramático
das historias dos cordéis, que mesmo sendo em um local “inadequado” para se
fazer Teatro funcionava de maneira encantadora, o jogo entre a platéia e os
atores muitas vezes era disputado entre abrir de garrafas e os carros na rua
tocando Black Style, um exercício de concentração e entrega indispensável para
o ator.
Agora renovados e inquietos, seguimos
com gana de pesquisador - afinal muito já se falou ou já se fez sobre a
literatura de cordel – “viajando” nas novas possibilidades de se interpretar um
tipo de texto feito para se “contar”, nessas ultimas semanas varias foram as
viagens motivadas pelo folheto de cordel mais vendido “A chegada de Lampião no
Inferno” de José Pacheco, narra-se o momento em que Lampião, impedido de entrar
no Inferno, ameaça fazer um escarcéu. Em resposta, o diabo reúne um exército de
demônios para enfrentar Lampião. O saldo da briga é terrível: além de vários
dos homens de Satanás mortos, Lampião provoca um incêndio no mercado local e no
armazém de algodão, o que leva o diabo a lamentar o prejuízo. Por fim, impedido
de entrar no Céu e no Inferno, Lampião toma caminho ignorado, embora o narrador
imagine que talvez tenha o cangaceiro voltado para o sertão, tal como a alma
penada de Pilão Deitado, homem de Lampião que teria morrido em trincheira e que
contara ao narrador a história descrita no folheto.
Como é o inferno pra você? Como o inferno
foi pintado? Como é o inferno popular? Após leituras e discussões, referencias
ao inferno de Dante, chegamos a conclusão de um possível inferno sertanejo, de
chão rachado, com uma organização urbana e social, com direito a diabos
(habitantes do inferno) com nomes e cargos ... é possível?
Sim! Pra José Pacheco sim, e pra nós “teatreiros”
também, no Teatro tudo pode, mas não pode qualquer coisa. Assim caminhamos, sob
a luz âmbar do candieiro.
Alumia!
Por Saulo Santos.
Por Saulo Santos.